Por Mariza Tavares
Jornalista, mestre em comunicação pela UFRJ e professora da PUC-RIO, Mariza escreve sobre como buscar uma maturidade prazerosa e cheia de vitalidade.
Rio de Janeiro
22/12/2019 06h01 · Atualizado
Conforme avançamos em nossa estrada, costumamos olhar para trás com mais frequência. Muitas vezes, uma leitura nostálgica nos fazer imaginar que o ideal seria poder voltar no tempo e permanecer naquela fase que, hoje, nos parece perfeita. O fim do ano alimenta esse tipo de fantasia, por isso gostaria de sugerir uma pequena viagem na memória.
Será que essa época mágica da qual nunca deveríamos ter saído seria nossa infância? Talvez superestimemos as alegrias infantis, varrendo para baixo do tapete angústias que nos afligiram nos primeiros anos de vida: brigas domésticas, bullying na escola, dificuldades financeiras. Se crianças – pelo menos as privilegiadas – em tese não precisam se preocupar com nada, também não têm autonomia para dar fim a situações adversas e que não são tão incomuns assim.
Avô e neto brincam no sofá: voltar no tempo inviabilizaria algumas das melhores experiências da vida — Foto: By Vitold Muratov - https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=72087146
Não conhecemos nossas forças e fraquezas, até que passamos a ter uma noção mais precisa do que somos na adolescência. Mas será este o momento ímpar da existência, para o qual gostaríamos de retornar? Mesmo já tendo deixado para trás essa etapa há décadas, minhas lembranças são de longos períodos de melancolia e incerteza sobre meu lugar no mundo.
Ok, chegando à casa dos 20 anos: a vida ficou fácil e cheia de prazeres? Todos os meus amigos se recordam de trabalhar insanamente e ganhar pouco, porque, com exceções que apenas confirmam a regra, esse é o caminho para o sucesso profissional. No amor, reinava a insegurança e os desencontros superavam com folga os encontros felizes.
Vamos continuar a visitar o passado: que tal a casa dos 30? Muitos já estão vivendo o prazer de ter filhos, mas também enfrentam as dúvidas da maternidade e da paternidade. Têm que dividir seu tempo entre carreira e família, às vezes à beira da exaustão, e fazem malabarismos para administrar o orçamento doméstico. Nem adianta olhar para o lado, os amigos estão tão assoberbados quanto você!
Continuemos, passamos pela porta dos “enta”. Com sorte sabemos quais são nossas forças e limitações e atingimos uma certa estabilidade profissional. Mas não nos tornamos imunes a crises matrimoniais, problemas de saúde e embates com filhos que começam a desafiar a autoridade dos pais. Com a experiência aprendemos que realizações e frustrações se complementam.
Uma certeza: se tivesse o poder de me transportar para uma dessas fases anteriores, teria perdido coisas incríveis. Se optasse pela adolescência, não teria vivido a emoção de ser mãe. Se escolhesse me manter para sempre entre os 30 e 40 anos, não teria amadurecido o suficiente para reconhecer erros da juventude e não repeti-los. Principalmente, seria privada da felicidade que é ter netos. Não há por que escolher: nossa jornada é a soma de todos esses passos.
Fonte: Globo/Bem Estar
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