Como uma geração de mulheres ressignifica o padrão de beleza imposto a quem tem mais de 50 anos

Como uma geração de mulheres ressignifica o padrão de beleza imposto a quem tem mais de 50 anos


Elas não têm vergonha de assumir, no cabelo ou na pele, a passagem do tempo e se sentem dispostas a encarar o escrutínio público que se tornou o envelhecimento
Talita Duvanel
16/07/2019 - 04:30 / Atualizado em 05/09/2019 - 16:54
Da esquerda para a direita, Roberta Vairolatti, Regina Sá e Claudia Savelli Foto: Foto: Fabian Alvarez. Beleza: Vini Kilesse

Não espere ver o trio da foto ao lado sentado numa cadeira de salão de beleza, exalando tédio ou espumando papo furado ao esperar as intermináveis horas que levam uma tinta de cabelo fazer efeito. Imagine, sim, encontrar a designer de acessórios Claudia Savelli, de 53 anos, a economista Roberta Vairolatti, de 64, e a arquiteta Regina Sá, de 70, fazendo um corte moderno, com, no máximo, uma hidratação, porque a opção de vida dessas três mulheres — e de tantas outras que têm se libertado das amarras de padrões estéticos — é usar o tempo de vida para ser feliz e livre.

Tanto elas, quanto muitas famosas, não têm vergonha de assumir, no cabelo ou na pele, a passagem do tempo e se sentem dispostas a encarar o escrutínio público que se tornou o envelhecimento em tempos de redes sociais dominadas por millenials. “Muita gente falou: ‘Mas você vai parar de pintar mesmo? Envelhece tanto’”, conta Regina Sá, que tomou a decisão aos 58. “Quem é que não envelhece? A idade e o tempo são inexoráveis. Acho uma libertação, não só pelo lado prático. De que adianta ficar lutando por tantas posições e ficar presa a esse tipo de coisa?”, questiona.

Essa abordagem em relação à idade, que começou nas mulheres de carne e osso, está chegando aos bam-bam-bam da indústria e da mídia. Mais do que adequar-se a um modismo, é uma necessidade. 

Para se ter ideia, segundo a agência de pesquisa Euromonitor, o segmento de coloração no Brasil teve uma queda de 2,4% entre 2013 e 2018.

A revista americana “Allure”, considerada a Bíblia de beleza, baniu o termo anti-idade de suas matérias.

No último ano, a L'Oréal colocou suas embaixadoras mais velhas, Helen Mirren, de 73, e Jane Fonda, de 81, para gastar sola de sapato em um monte de eventos, campanhas e editoriais, tudo para chamar atenção das consumidoras da mesma faixa etária, que, geralmente, não se reconhecem na publicidade.


“As baby boomers(mulheres nascidas entre 1946 e 1964, que, segundo o IBGE, corresponde a 17,4 milhões da população brasileira), que queimaram sutiã, chegaram à maturidade ressignificando o envelhecimento”,

explica Bete Marin, publicitária, especializada em marketing para o público sênior,Co-fundadora das empresas Hype60+, Amo Minha Idade, ED Comunicação e ED Promoção e Eventos e sócia da Virada da Maturidade São Paulo. 20 anos de experiência em planejamento estratégico, comunicação integrada, eventos e festivais. Formada marketing, pós-graduada em comunicação pela ESPM e MBA pela FGV São Paulo.

“Isso tem impacto no consumo de beleza. Não tem nada a ver com desleixo, é simplesmente aceitar a passagem do tempo. A pele é bem cuidada, o cabelo, também, mas para que tanta química?”
É nessa toada do “menos é mais” que vivem Claudia Savelli e Roberta Vairolatti. A primeira é da turma do filtro solar e do hidratante; Roberta, também, abrindo uma exceção para um botox bem leve feito anos atrás. “Pedi que fosse algo para eu parecer descansada, nada muito carregado. Não gosto de radicalismos. Conheço filhas de amigas que, com 20 e poucos anos, estão fazendo tantos procedimentos que estão parecidas com Tutancâmon”, brinca a economista.
Helen Mirren Foto: Jeff Kravitz / FilmMagic

Essa preservação forçada da juventude, que baliza atitudes e escolhas de mulheres de todas as idades, é algo bastante recorrente na América Latina e em menor proporção na Europa e nos Estados Unidos. Bete Marin tem explicações para essa diferença: “Além de a cultura latina ligar beleza à juventude e à magreza, existe o fato de que o envelhecimento da nossa população está acontecendo de maneira mais rápida do que nos países desenvolvidos”. Roberta concorda que a sociedade privilegia a juventude. “Ter cabelo branco, por exemplo, deixa as mulheres inseguras, pensando que vão achá-las velhas. Tem gente que não fala nem idade, não é mesmo?”, diz. “Mas eu também quero ficar bem. Essa liberdade de não passar tinta é interna, é entender que estou numa nova fase da vida e que posso ser feliz e bonita nela também.”

Felicidade e liberdade são algumas das palavras mais citadas pelas mulheres dessa geração, de acordo com relatório de uma pesquisa conduzida pela Hype 60+. “Elas estão numa fase em que já educaram os filhos e estabeleceram carreiras. Estão num momento de liberdade e de busca da felicidade. Isso significa dar um tchau aos padrões de beleza muito perversos”, analisa Bete.

Jane Fonda Foto: Steve Granitz / WireImage

É o que fez Claudia, a mais jovem da página anterior. Cabelo branco, para ela, é sinal de respeito a si própria. “Eles me dão até uma força de aceitação”, diz. “A liberdade tem que existir em todas as opções, de querer ou não fazer alguma coisa para se sentir bem consigo mesma. Mas aí a pessoa tem que perceber se está escolhendo livremente ou se está se sentindo sem saída.”
Já parou para pensar qual é o seu caso?
Fonte: O Globo/Ela

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